Sobre perfeccionismo

Sobre perfeccionismo

Regressava eu de Barcelona a Portugal quando ouvi um podcast muito interessante sobre perfeccionismo e uma frase despertou em mim especial atenção:

 

“perfectionism is a beast that needs to be tamed”

 

A prática exacerbada do perfeccionismo no nosso dia-a-dia – tendência culturalmente na voga – não nos ajuda, nem suporta a nossa evolução. Porquê? Porque a sua origem está na mente racional, no ego. E o apego excessivo ao perfeccionismo leva-nos a lugar nenhum. A sentirmo-nos presos, sem conseguir avançar.

 

Digo muitas vezes (porque o sinto!) que a prática de Yoga āsana é um espelho da nossa Vida. Os desafios que, muitas vezes, enfrentamos no dia-a-dia são passíveis de ser experienciados na prática. E, da mesma forma, a prática de āsana pode inspirar-nos a compreender com maior clareza aquilo que nos rodeia. Desta compreensão surge a possibilidade de agirmos de forma mais consciente.

 

Partindo desta ideia de que a prática pode servir como ferramenta de investigação para o exterior, dei por mim a pensar nas duas forças que operam em simultâneo quando praticamos: a força da gravidade que nos enraíza à terra e a força celestial que nos eleva. Esta última, experienciada através da activação de mula bandha (cadeado da raíz).

 

É através da combinação destas duas forças que criamos espaço interno. Espaço este que é necessário ao processo de cura.

De forma semelhante, ser perfeccionista, ou melhor, saber para onde queremos ir e o que queremos alcançar não é necessariamente negativo. O que é necessário é a sua conjugação com uma outra premissa: o auto-perdão.

 

Quando o perfeccionismo / foco é balançado com o perdão, ao invés de ficarmos “presos” em determinado lugar ou situação, somos capazes de nos mover. E movemo-nos da forma mais efectiva: focada mas flexível.

 

Porque: há foco, mas há também aceitação. Há espaço para aprender, para falhar, para tentar e para evoluir. E é assim que queremos agir no mundo: de forma consciente mas flexível.